Este artigo foi publicado nos anais do SIBRAGEC
2019. Você pode citá-lo, em formato ABNT:
ABREU, João Paulo Maciel de; MARCHIORI,
Fernanda Fernandes, OVIEDO HAITO, Ricardo Juan José. A evolução do conhecimento
de Construtibilidade. In: XI Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da
Construção. 2019. Anais... Londrina: 2019. Disponível em: https://www.antaceventos.net.br/index.php/sibragec/sibragec2019/paper/view/249.
Acesso em: 25 out.
2019
ABSTRACT
In civil construction
there is a constant search for improvement. Among the ways to achieve it, the concept
of constructability stands out. Constructability can be understood as a
characteristic of a building or construction project to be easily performed.
Since 1962, in Emmerson Report, this concept is growing and involving different
areas of construction research. Notwithstanding, there is no consensus about
the meaning of this concept, that can be associated to terms such as
constructability, buildability, among others, with similar constructs but
different scopes in construction life-cycle. The aim of this paper is to show
the evolution of constructability knowledge in researches conducted in Brazil
and other countries, specially USA, UK, Singapore and Hong Kong. To reach this
aim, a bibliometric integrative review was carried out in international
databases, including journals and event proceedings, and Brazilian thesis
repositories. Three hundred forty-three researches mentioned the terms “constructability”
or “buildability” as well its equivalent “construtibilidade”. As a result, it
was observed the consolidation of this concept in 2000’s, and the emergence of
new ways and tools related to constructability analysis such as indicators
systems or analysis using BIM 4D; contributing to the discussion about how to
put the constructability concept into practice.
Keywords: Constructability. Buildability. Integrative
Review.
1 INTRODUÇÃO
No ano de 1962, Sir. Harold Emmerson publicou
o documento “Emmerson Report”, em que
aponta inconsistências entre o que era disposto no escopo do produto e a
posterior execução de empreendimentos de construção civil. Para alguns autores,
é apontado como um dos pioneiros em citar que a separação entre profissionais
atuantes em projeto e construção não seria favorável à construtibilidade (sem
citar esse termo explicitamente) (LAM; WONG; CHAN, 2006; KIFOKERIS; XENIDIS,
2017).
É constante a realização de novas pesquisas
na área de construção, buscando sua melhoria em diversos aspectos, e um deles é
a construtibilidade, que é uma característica que indica o grau de facilidade
de execução de uma edificação. O acréscimo de construtibilidade ocorre quando
se insere em etapas iniciais (viabilidade e escopo do produto) todo o
conhecimento existente até as operações construtivas (SABBATINI, 1989; ASCE,
1991).
Quando a etapa do empreendimento considerada
é a de definição do design do produto, tem-se o que em língua inglesa é definido
como buildability (JARKAS, 2010). Já
a definição com desenvolvimento estadunidense chamada constructability envolve mais etapas do ciclo de vida do processo de construção no contexto de melhoria da construtibilidade (LAM; WONG;
CHAN, 2006). Com o passar do tempo, algumas publicações internacionais citam
casos de uso dos termos buildability
e constructability como um mesmo
conceito (LAM; WONG; CHAN, 2006), ou ainda que o termo constructability passasse a integrar aspectos da edificação em uso
(LAM et al., 2008).
Considerando que a construtibilidade envolve
o uso ótimo do conhecimento em construção existente advindo dos stakeholders do setor ou eventuais
bancos de dados (TATUM, 2005), tem-se margem a interpretações subjetivas,
apesar de ser relevante se valer de tal recurso. Então, uma forma objetiva de
análise de construtibilidade está na criação e uso de sistemas de indicadores
de construtibilidade. A concepção desses sistemas, formatos e objetivos é
diversa, praticamente não havendo publicações nessa linha no Brasil. No exterior,
destacam-se sistemas com foco no design
do produto ou buildability,
implantados como política pública em Singapura (POH; CHEN, 1998; CHIANG; CHAN;
LOK, 2006) ou dentro de softwares de avaliação (KANNAN; SANTHI, 2018).
O objetivo dessa pesquisa foi de traçar a
evolução do conhecimento existente sobre “construtibilidade”, elucidando suas
diferentes abordagens e ferramentas de implantação como filosofia de projeto.
Para tanto, foram consideradas pesquisas desenvolvidas no Brasil e no exterior.
2 MÉTODO
O método utilizado foi a revisão bibliométrica
integrativa (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). Esse tipo de revisão permite sumarizar estudos
primários e secundários e levantar o conhecimento pré-existente em determinado
tema (Quadro 1). Após, novos
conhecimentos e discussões são gerados com a análise de resultados de pesquisa.
Etapa
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Atividades
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1
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Identificação do tema e seleção da questão de pesquisa
|
·
Definição do problema.
·
Formulação de uma pergunta de pesquisa
- Como a construtibilidade vem sendo
conceituada e avaliada, nacional e internacionalmente?
·
Definição da estratégia de busca –
buscar produção nacional e internacional, período de tempo aberto e sem filtros
(diferentes ou indisponíveis segundo bases distintas).
·
Definição dos descritores - uso dos
termos “constructability” e “buildability” em inglês, e
“construtibilidade” em português.
·
Definição das bases de dados.
|
2
|
Estabelecimento dos critérios de inclusão e
exclusão
|
·
Uso das bases de dados.
·
Busca dos estudos com base nos
critérios de inclusão e exclusão.
|
3
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Identificação dos estudos pré-selecionados e
selecionados.
|
·
Leitura dos resumos, palavras-chave e
títulos das publicações.
·
Organização dos estudos
pré-selecionados.
·
Identificação dos estudos selecionados.
|
4
|
Categorização dos estudos selecionados
|
·
Elaboração e uso da matriz de síntese.
·
Categorização e análise de informações.
·
Formação de uma biblioteca individual.
·
Análise crítica dos estudos selecionados.
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5
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Análise e interpretação dos resultados.
|
·
Discussão dos resultados.
|
6
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Apresentação da revisão/Síntese do conhecimento.
|
·
Criação de um documento que descreva
detalhadamente a revisão – paper no
SIBRAGEC.
·
Propostas para estudos futuros.
|
Quadro 1 - Processo de Revisão
Bibliométrica Integrativa. Fonte: Botelho, Cunha e
Macedo (2011), os Autores (2019).
Uma primeira etapa,
dentro do método adotado, consistiu em definir palavras-chave e caracteres de
pesquisa (strings) a serem utilizados
em bases de dados e repositórios.
Para isso, fez-se revisão narrativa, que permite criar familiaridade com o tema
a ser pesquisado e estabelecer critérios mais eficientes quando aplicado método
sistematizado de revisão (BOTELHO; CUNHA; MACEDO, 2011). Após, realizou-se a
revisão bibliométrica integrativa, com um método
sistemático de seleção de publicações para composição de um portfólio de
referências, seguindo as etapas
descritas no Quadro 1.
Feitas essas etapas,
obteve-se o portfólio de publicações disponível no seguinte sítio eletrônico: https://www.dropbox.com/s/azgdrx8uulk300s/PORTF%C3%93LIO%20DE%20REFER%C3%8ANCIAS.docx?dl=0.
A Figura 1 ilustra o processo de seleção desde os resultados nas bases de dados
até a obtenção do portfólio:
.
Figura 1 – Processo de seleção. Fonte: Os autores (2019)
Algumas publicações
foram filtradas nos ambientes virtuais das bases e repositórios, por meio da
leitura de títulos e resumos. As demais, analisadas por qual a abordagem do
termo “construtibilidade”. Há outros entendimentos para construtibilidade que
diferem do trabalhado nesse estudo, como nas áreas de Urbanismo, e Geografia,
com construtibilidade sendo a capacidade ou não de edificar em dado terreno, ou
ainda na área de Matemática, onde, por exemplo, Lima (2018) versa sobre
construções geométricas utilizando software.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as diferentes
abordagens sobre construtibilidade, a mais antiga é a de conceituação do termo,
em publicações dos anos 1980 e 1990, menos presente após os anos 2000, como no
estudo de Gerth et al. (2013).
Durante esse período, no Brasil, há trabalhos pioneiros como as teses de
Sabbatini (1989) e de Melhado (1994). Também há discussões em artigos de
eventos como o ENTAC 1998.
A Figura 2 apresenta
as categorias de estudos que mencionam “construtibilidade” ao longo de seus
textos e que foram selecionados nessa revisão. A maioria desses estudos é de
dissertações nacionais, nos últimos vinte anos, onde apenas há menção do termo
como algo consolidado, entendido como a facilidade de construir e utilizado
como adjetivo para métodos construtivos ou técnicas inovadoras.
.
Figura 2 - Abordagens
sobre construtibilidade. Fonte: Os autores (2019).
Ao analisar os
maiores meios de publicação, visto que muitas das dissertações não agregam ao
estudo de construtibilidade em si, mas a citam apenas, verificou-se a aderência
à Lei de Bradford (1934) desconsiderando essa parcela de publicações,
obtendo-se o disposto na Figura 3. Essa Lei da Bibliometria afirma a existência
de zonas de produtividade bibliográfica, onde a faixa superior apresenta um
menor número de autores/meios de publicação e maior produção bibliográfica,
relação esta que se inverte nas faixas inferiores (MACHADO JÚNIOR et al, 2016; ARAÚJO, 2006). Observa-se que é possível seccionar em
aproximadamente um terço das publicações cada faixa, com os maiores meios de
publicação (no núcleo ou Faixa 1) sendo os anais do evento ENTAC (nacional) e o
periódico Journal of Construction
Engineering and Management (internacional).
Figura 3 - Zonas
de produtividade da Lei de Bradford.
Fonte: Os autores (2019).
Alguns pesquisadores
verificam em empresas de construção a incorporação de conceitos de
construtibilidade (redução do número de partes, modularidade, padronização,
dentre outros) dentro de suas rotinas, em estudos de caso como o de Chiang,
Chan e Lok (2006). Ela pode ocorrer como um processo de análise de
construtibilidade onde, com primeiras definições do produto e seu design,
há reuniões com os stakeholders
buscando eliminar incompatibilidades e buscar soluções com maior facilidade de
execução, (GRANSBERG; WINDEL, 2008; DEL VECCHIO, 2011). Esse processo de
análise também é recomendado para empreendimentos com características únicas, com
grande chance de erros durante o processo construtivo (GIBSON JR et al.,
1996). Também é possível inserir conhecimentos advindos de uma avaliação
pós-ocupação (GARSDEN, 1995) como facilidade de manutenção predial.
Outras pesquisas
buscaram esclarecer a relação de construtibilidade com outras variáveis, sendo
a principal a produtividade da mão de obra (JARKAS, 2010). Kifokeris e Xenidis
(2017) apresentam ligações com diferentes áreas do conhecimento na construção
civil (performance total da construção, gestão do conhecimento, análise de
custo-benefício e outras).
A abordagem de
“questões relativas à construtibilidade em diferentes sistemas prediais” inclui
publicações que elucidam aspectos tecnológicos para algum sistema construtivo
em específico, em busca de maior construtibilidade. Uma dessas publicações foi
a de Navon, Shapira e Shechori (2000), com aspectos relacionados às dimensões e
posicionamento de armaduras longitudinais positivas e negativas em vigas de
concreto armado.
Uma ferramenta útil
ao processo de análise de construtibilidade é o uso de BIM ou outros recursos
computacionais. Kannan e Santhi (2018) apontam que a análise poderia usar
recursos de BIM 4D (três dimensões espaciais e outra de tempo) para antecipar
processos construtivos por simulação do empreendimento, ou na utilização de um plugin que lê dados do modelo BIM.
Quanto à abordagem
quantitativa da construtibilidade, na forma de indicadores, artigos
internacionais demonstram o funcionamento dos sistemas estatais de Singapura,
como se dá a pontuação e de que forma os mesmos foram produzidos. Há ainda
algumas pesquisas que propõem os seus próprios modelos de medição quantitativa
da construtibilidade como Kannan e Santhi (2018) ou
Jarkas (2010) – ambos os autores dão enfoque ao serviço de produção de formas.
No Brasil, apenas a
dissertação de Narloch (2015) buscou produzir um sistema de indicadores de
construtibilidade, com foco em aspectos geométricos do edifício, considerando
princípios como padronização e repetição. Não considerados na revisão
integrativa, mas detectados na narrativa estão duas monografias que verificam
os escores de edifícios nacionais em sistemas internacionais. Uma pesquisa em
que se considere tanto geometria como aspectos qualitativos e dados de
produtividade, visando indicadores de construtibilidade, é uma lacuna de
pesquisa existente na bibliografia brasileira.
De forma a
sintetizar o processo evolutivo exposto, a Figura 4 traz os principais aspectos
sobre “construtibilidade” desde os anos 1980 até o ano de 2019:
Figura 4 - Evolução do conhecimento em
construtibilidade. Fonte: Os autores (2019)
4 CONCLUSÕES
As
pesquisas
científicas
relacionadas à
construtibilidade buscaram, desde
as primeiras definições de buildability
e constructability até então,
demonstrar de que maneira seria
possível introduzi-la como filosofia nos empreendimentos de construção civil,
com quais ferramentas e processos e os benefícios nessa introdução. Com
diferentes abordagens, nota-se a evolução no conceito de construtibilidade na
forma com que o mesmo se faz presente nas referências consideradas.
Não é mais desafio o
entendimento do que seria construtibilidade, tanto que a mesma é utilizada de
forma corrente em relatórios de pesquisa nacionais. Por outro lado, torna-se
relevante a pesquisa sobre como melhorar a construtibilidade de edificações,
incluindo ferramentas como BIM e outras que possam se incorporar ao mercado da
construção, como indicadores de construtibilidade voltados à realidade
brasileira.
Este artigo cumpre
com o objetivo de traçar a evolução no conhecimento em construtibilidade. Espera-se
que essa pesquisa sirva de base para a elaboração de um sistema de indicadores
de construtibilidade a ser aplicado na realidade da construção civil
brasileira, propiciando tanto a empresas públicas quanto privadas, a tomada de
decisão quanto à escolha de projetos e sistemas construtivos.
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio no
desenvolvimento desta pesquisa, com origem em Mestrado Acadêmico.
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.
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