Um triste episódio que ocorreu no final do ano de 2024 foi a queda da ponte que ligava os estados de Maranhão e Tocantins, entre os municípios de Estreito e Aguiarnópolis, respectivamente. Além de representar a perda de pessoas queridas nos dois municípios, esse colapso representou risco ambiental e prejuízos econômicos para as comunidades próximas, obrigadas a fazerem caminhos alternativos.
Em episódios assim, ficam vários questionamentos sobre como tudo poderia ser evitado. Nesses momentos é que é preciso ressaltar a importância de pensar no ciclo-de-vida das construções.
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[Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira – Imagem: EBC | Reprodução] |
A CONSTRUÇÃO
Em obras públicas ou privadas, a construção é um momento especial porque representa melhorias na economia de uma região, quando falamos de pontes e rodovias, ou aumento da capacidade de vendas, ou o adeus ao aluguel, para edifícios comerciais ou residenciais. Ao falar de construção, sempre estamos pensando em solidez e benefícios, uma vida melhor.
Além dos benefícios e de ser um momento especial, a construção tem uma característica essencial que é de ser um elemento de longo prazo. Alguns exemplos ajudam a entender essa característica. Por exemplo: se uma pessoa vai comprar um carro e consome todos os seus recursos, muito provavelmente não poderá desfrutar desse bem. Impostos, peças, combustíveis e outros elementos precisarão ser providos e representarão custos ao longo de anos. Outro exemplo é a compra de uma TV: ela precisará de pagamentos mensais de energia elétrica para seu funcionamento.
A mesma lógica serve às construções. Elas não representam um objeto que implicará em custos apenas em sua construção. Também não existe qualquer tipo de construção, a qualquer tempo, que tenha materiais extremamente duráveis e que nunca demandem quaisquer serviços de manutenção. É essa a ideia que está por trás do pensamento em ciclo-de-vida.
O CICLO-DE-VIDA
Após a construção, uma edificação ou infraestrutura como pontes vai passar por períodos de utilização, podendo ter reformas e manutenções para garantir suas condições de uso ou melhorias, e, quando não for técnica ou economicamente viável, passar por demolição. Nesse ciclo-de-vida, o custo envolvido agregado ao longo do tempo é, inclusive, maior do que o da própria construção, se feitas as manutenções adequadas.
Ao passar essa informação, não significa que não se deva construir para evitar custos na operação da construção, mas é preciso criar a cultura de cuidar do bem depois de feito. Em pontes, existem alguns aspectos críticos:
* A qualidade do pavimento asfáltico, que precisa ser removido (fresado) e substituído por novo, em função de perder suas propriedades mecânicas por ação do tempo e passagem de veículos.
* A proteção à corrosão das armaduras, principalmente na região de pilares e fundações, em contato com a água. Mesmo que não sejam pontes sobre água salgada (em regiões oceânicas), a água de rios também possui agentes agressivos.
* A proteção do concreto que envolve as armaduras de aço, pois ele reduz a chance de ocorrer a corrosão e possui função estrutural, também resistindo às cargas. Na ponte entre TO e MA, observava-se, em alguns trechos, regiões já sem pavimento asfáltico (que protegia e impermeabilizava) e sem o concreto sobre a armadura do tabuleiro da ponte.
* Proteções nas regiões das juntas, com partes deformáveis e que sejam devidamente impermeabilizadas. A ponte não é uma estrutura só, geralmente, e nas “emendas”, a proteção é importante do ponto de vista estrutural – precisa funcionar – e do ponto de vista de agir como proteção – pois são partes expostas.
* Sinalização e defensas laterais, para evitar acidentes nas laterais em pequenas colisões, ou mesmo que o motorista tenha dificuldade de trafegar em dias chuvosos ou no período de menor luminosidade.
Esses e outros aspectos devem ser considerados na manutenção de pontes, um importante trabalho de Engenharia Civil. Seja nelas, ou em casas e condomínios, precaução periódica nunca é demais. Os danos envolvidos caso uma estrutura falhe são enormes e justificam essa atenção.
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