ABREU, João Paulo Maciel de; MARCHIORI, Fernanda
Fernandes. Definição do conceito e dos componentes de avaliação de uma Smart City – uma revisão sistemática. In:
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Acesso em: 09 nov.
2018
ABSTRACT
Since 2009/2010, the
name “smart city” rose as a synonym of vanguard city. There are a lot of
researches about this matter, and different definitions. Some concepts are
focused in Information Technology and Communication (ITC), others in
sustainability or a specific urban system such as energy or wastewater.
However, it’s too important a holistic view. A smart city could be a new city
or an existing city that was changed, because smart cities promise: being more
sustainable/efficient and solve common chronic urban problems. This paper aims
to define the meaning of “smart city” using a bibliographic systematic review
with the method SystematicSearchFlow (proposed by Ferenhof e Fernandes (2016)),
bringing this wide view. Twenty-three publications are selected, with concepts
and indicators, both holistic, and examples of smart cities and/or systems. As
a result of the systematic review, this research shows an increase of
scientific publications about smart cities in the last year. Most of these
selected papers are from Asia, continent with the most quantity of mega-cities
nowadays. This research shows that smart cities’ concept is evolving and new
challenges are predicted.
Keywords: Smart City. Concept. Systematic Review.
1 INTRODUÇÃO
O acréscimo
populacional dos centros urbanos, em todo o mundo, é um fenômeno crescente,
impulsionado pelo crescimento natural (principalmente aumento da expectativa de
vida) e êxodo rural. Apesar de que as cidades ocupem apenas 2 % da superfície
mundial, abrigam 50 % dos habitantes e consomem 75 % de toda a energia gerada
no planeta. Destarte, as cidades devem enfrentar desafios com o abastecimento
de água/energia, transporte, gestão de resíduos e muitos outros (EREMIA, TOMA e
SANDULEAC, 2016; GAVALAS et al.,
2017).
Buscando alternativas,
pesquisas moldam tendências de evolução para as cidades, dentre outras
nomenclaturas, chamadas de smart cities.
Não há consenso quanto à definição do que seria uma smart city, em função dos inúmeros aspectos que envolvem uma cidade
e suas possíveis soluções (EREMIA, TOMA e SANDULEAC, 2016; HUSÁR, ONDREJIČKA e
VARIŞ, 2017).
Diante das lacunas
na definição de smart city, este
artigo irá apresentar uma revisão bibliográfica sistemática, que objetiva:
- Determinar, de forma mais sólida, o conceito de smart city.
- Observar características bibliométricas de pesquisas anteriores, como
ano de produção, distribuição geográfica de pesquisas, dentre outras.
- Verificar, também, itens relativos a pesquisas que envolvam
indicadores de desempenho e exemplos reais de smart cities.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os conceitos
relacionados às cidades-do-futuro e à resolução de seus problemas motivam
pesquisas há muito tempo. Entretanto, assim como houve evolução no entendimento
do tema, a terminologia e seu significado passaram por modificações. Cidades
sustentáveis e cidades digitais já foram mencionadas como sinônimos de cidades
de vanguarda, mas a carga política ou extremamente tecnológica fizeram estes
termos serem gradativamente preteridos. Entre os anos de 2009 e 2010, despontou
o termo smart city, de maior
aceitação do que os anteriores (EREMIA, TOMA e SANDULEAC, 2016; HUSÁR,
ONDREJIČKA e VARIŞ, 2017).
Cidades ao redor do
mundo já experimentaram efeitos negativos associados com o crescimento não
sustentável. As smart cities prometem
benefícios ambientais como água e ar mais limpos, prevenção contra problemas de
erosão, controle climático, aliados a vantagens econômicas como espaços e
moradias valorizados e consumo eficiente de energia. Smart cities possuem, dentre outros requisitos para seu sucesso, o
uso racional do espaço (por meio de um plano diretor) e a contínua verificação
de desempenho de seus sistemas (LI e LIU, 2013; STRZELECKA et al, 2016).
Apesar dos
benefícios que as smart cities possam
trazer, há novos desafios previstos. Um deles é a segurança da informação de
instituições públicas e privadas, bem como do indivíduo. O outro é o de crer no
sucesso de uma cidade fundamentando-se apenas em design e tecnologia pesada
(XUE, 2017; LI e LIU, 2013; HUSÁR, ONDREJIČKA e VARIŞ, 2017).
3 MÉTODO
O SystematicSearchFlow
(SSF), processo composto por quatro fases e oito atividades proposto por Ferenhof e Fernandes (2016), foi adotado para o
desenvolvimento da revisão bibliográfica sistemática. A Figura 1 apresenta detalhes sobre sua aplicação.
Figura 1 - Fases da Revisão
Sistemática. Fonte: Os autores (2018)
|
Na primeira fase,
foram realizadas buscas nas bases de dados “Scopus®”, “ASCE
Library”, “EBSCO” e “Infohab”, sendo a última descartada por não retornar
resultados. Após pesquisas com os parâmetros de tempo (2010 - 2018) e
palavras-chave, utilizou-se a ferramenta EndNoteWeb™
para organização, remoção de duplicados e leitura de títulos/resumos e
palavras-chave, obtendo-se vinte e três artigos, todos em língua inglesa. Estes
artigos atendem ao critério de pesquisa de não possuir enfoque em apenas um dos
sistemas ou subsistemas que compõem as cidades (saneamento, habitação,
tecnologia, gestão territorial, economia, uso de energia, dentre outros), mas
uma visão holística, abrangendo-os em conjunto.
Na segunda e
terceira fases, dados foram extraídos dos artigos selecionados, organizados em
planilha eletrônica e avaliados quanto à consistência (por exemplo, local de
produção e importância do tema neste local) e relevância (respostas que podem
ser obtidas através de tais dados para os objetivos da pesquisa). Por fim,
houve a redação do artigo (quarta fase).
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Bibliometria
Ao realizar uma
análise temporal das publicações obtidas após o método SSF, obteve-se o
disposto na Figura 2. Observa-se que é crescente o interesse
sobre o tema, considerado o intervalo de pesquisa de 2010 a 2018.
Figura 2 - Quantidade de produções científicas segundo a data de publicação. Fonte: Os autores (2018). |
Observando-se a
quantidade de citações das publicações selecionadas (Quadro 1), que pode ser um indicativo de sua
relevância, há grande discrepância entre elas. Na maioria dos casos, as
publicações mais antigas foram, naturalmente, mais citadas.
Autoria
|
Título
|
Ano
|
Citações
|
CARAGLIU, A.; DEL
BO, C.; NIJKAMP, P.
|
Smart Cities in
Europe
|
2011
|
1845
|
ALLWINKLE, S.;
CRUICKSHANK, P.
|
Creating Smart-er Cities: An Overview
|
2011
|
291
|
SHWAYRI, S. T.
|
A Model Korean Ubiquitous Eco-City? The Politics of
Making Songdo
|
2018
|
100
|
Quadro 1 -
Publicações com maior número de citações. Fonte: Adaptado de Google Acadêmico
(2018).
Outro indicativo de
relevância está na Lei de Bradford, de 1934. Elencando os diferentes meios de
publicação segundo produtividade, podem ser distintos três grupos, sendo o
primeiro mais relevante e com maior número de publicações, e os demais com
aumento no número de meios com menor produção. Há tendência, dentro do que
Bradford afirma, de que as zonas representem, cada uma, um terço do total de
publicações (MACHADO JÚNIOR et al,
2016; ARAÚJO, 2006). Para este estudo, é apontado como veículo mais relevante
de publicações sobre o tema o Journal of
Urban Technology, com seis publicações selecionadas (Figura 3).
Figura 3 -
Distribuição de publicações quanto à Lei de Bradford. Fonte: Os autores (2018).
|
Verificando-se a
distribuição espacial (Figura 4), nota-se a predominância de pesquisas
realizadas em países do continente asiático (dez ocorrências, em roxo). Segundo
Eremia, Toma e Sanduleac (2016), em 2014, havia vinte e oito megacidades (acima
de dez milhões de habitantes) em todo o mundo, sendo dezesseis localizadas na
Ásia. Há uma tendência de que estas megacidades, buscando resolver seus
problemas crônicos, sejam convertidas a smart
cities, fato que pode induzir maior volume de pesquisas desta área em
países asiáticos.
Figura 4 -
Publicações segundo país de origem da pesquisa. Fonte: Os autores (2018)
|
Após a leitura
completa das publicações, avaliou-se a temática de cada uma (Figura 5), onde se observa a predominância daquelas
sobre o conceito de smart city,
podendo ocorrer sobreposição (mais de um tema) ao longo de um mesmo texto. As
publicações sobre indicadores, em sua maioria, referem-se a medições de
desempenho após a implantação da cidade, havendo também estudo sobre índices
que permitam buscar smart cities mais
sustentáveis desde os estudos de viabilidade e produção do plano diretor. Já as
publicações contendo exemplos de smart
cities, apesar de que tragam visão holística do tema em suas concepções,
indicam exemplos em aspectos isolados (tais como sistemas de transportes ou
centrais de Inteligência).
Figura 5 -
Temática das publicações segundo os objetivos da pesquisa (havendo
sobreposição). Fonte: Os autores (2018).
|
4.2 Conceito de smart city
Há divergência nos
conceitos apresentados como smart cities
nos textos apresentados. Eles evoluem, também, com o passar dos anos.
Entretanto, com a revisão bibliográfica sistemática, torna-se possível,
mediante o paralelo de pesquisas, apresentar um conceito de maior solidez sobre
o tema. Partindo das proposições de Zubizarreta, Seravalli e Arrizabalaga
(2016), Husár, Ondrejička e Variş (2017) e Vidiasova, Kachurina e Cronemberger
(2017), entende-se que o conceito deva contemplar os aspectos a seguir.
As smart cities são o espelho do futuro das
cidades, segundo a perspectiva projetada atualmente. Poderão ser concebidas
desde o início sendo “smart” ou vir a
se tornar, como estratégia para resolução de problemas sérios, que tenderão a
se agravar com o aumento populacional.
Quando concebidas
para ser smart cities, um plano
diretor eficiente deverá ser produzido. Sistemas de indicadores poderão
auxiliar neste trabalho, dando subsídios à criação de cidades mais
sustentáveis.
O aspecto
“sustentabilidade”, sob os pontos de vista ambiental e econômico, pode ser
obtido por uma gestão mais eficiente de recursos e a criação de oportunidades.
Entretanto, o aspecto social exigirá soluções que vão além da otimização dos
sistemas urbanos obtida por meio de um forte aparato tecnológico.
Pesquisadores como
Husár, Ondrejička e Variş (2017) e Fisher, Reiner e Sperling (2017) reconhecem
que é irreversível a transição para este modelo urbano, bem como será
necessário desenvolver mecanismos que favoreçam a participação cidadã e evitem
a exclusão social. Ele exigirá constante avaliação por meio de indicadores e
comparação entre cidades.
4.3 Publicações selecionadas
AHMED, F. et al. Smart cities: health
and safety for all. The Lancet Public
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Acesso em: 07.mar.2018.
ALLWINKLE,
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Development, v. 142, n. 1, p. 04015005, 2016/03/01 2016. Disponível
em:
5 CONCLUSÕES
A aplicação do
método SSF para revisão bibliográfica sistemática evidenciou o crescimento no
interesse nas smart cities,
consideradas o modelo de vanguarda para as cidades atuais evoluírem e futuras
serem concebidas. Críticas ao modelo surgem quando observado de forma
holística, pois há uma tendência a apontar a Tecnologia da Informação e
Comunicação como a maior chave, ou mesmo a única, para o sucesso citadino.
Portanto,
acredita-se que a principal contribuição deste trabalho é mostrar que para
definir uma smart city, é preciso
atentar a todos os pontos básicos de sua composição, como sistemas eficientes
de abastecimento e transporte, além de um melhor manejo de recursos naturais,
energia e resíduos, o que leva à maior sustentabilidade e é questão de
sobrevivência para as cidades, cujos problemas crescem à medida que o
crescimento populacional ocorre. A criação de indicadores envolvendo a
concepção (plano diretor) ou o monitoramento de sistemas permitirão obter
referências úteis para comparações (benchmarking)
entre cidades e o estabelecimento de metas e políticas públicas. O tão
destacado título “sustentável” dado às smart
cities será irrelevante sem monitoramento.
Por fim, observa-se
que o modelo de smart city traz
inovações em todos os sentidos, promovendo mudanças drásticas no cotidiano das
cidades. Também surgem novos desafios, como a segurança da informação, inclusão
social e o funcionamento de sistemas em locais com infraestrutura deficiente,
os quais devem motivar futuras pesquisas científicas.
AGRADECIMENTOS
À Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio no
desenvolvimento desta pesquisa, com origem em Mestrado Acadêmico.
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